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A metodologia que orienta este trabalho busca a partir da circulação de ideias e ideais, unir ao contexto histórico das cidades do Oeste do Estado de São Paulo, uma série de dados territoriais, promovendo o entrecruzamento dos saberes envolvidos em meio a formulação territorial, para em seguida analisar seus respectivos contextos.

 

São necessários programas de investigação histórica para fundamentar as políticas de proteção do patrimônio industrial. Devido à interdependência de numerosas atividades industriais, uma perspectiva internacional pode auxiliar na identificação dos sítios e dos tipos de sítios de importância mundial. (TICCIH - Carta de Nizhny Tagil, 2003)

 

O conceito de circulação de ideias atrelado à leitura urbana visa à manutenção de um diálogo entre profissionais de diversos países e campos do conhecimento, buscando desta maneira a troca de informações, modo a formar um campo comum de conhecimentos.

 

Tendo em consideração a tardia organização espacial e econômica brasileira, principalmente quando comparado ao ambiente europeu, a presente investigação parte do pressuposto que a partir de 1870, a produção de café, cuja maior concentração ainda era sentida no Estado do Rio de Janeiro, passa a ser estruturada como uma atividade econômica capaz de criar as condições iniciais para o desenvolvimento do sistema ferroviário de transportes no Brasil, um contexto que anos mais tarde proporcionaria também, principalmente em relação ao Estado de São Paulo, o surgimento de um complexo industrial. 

 

Uma espécie de diálogo recíproco, uma vez que não se pode manter uma rede ferroviária sem a criação de todos os processos industriais necessários ao seu desenvolvimento e viabilidade econômica.

 

Sendo a ferrovia precursora de uma “indústria moderna”, gera como consequência uma série de transformações em seu entorno, desta forma, a metodologia desta pesquisa optou pelo estudo e levantamento histórico-geográfico em torno do avanço ferroviário e a consequente dispersão industrial da porção Oeste de São Paulo, cujas características não se encontram isoladas ao eixo de determinada companhia, mas sim estruturadas por um conjunto de cidades organizadas como uma rede, unidas entre si pelo eixo linear representado por sua companhia, ou por demais conexões situadas de forma perpendicular ao eixo principal (sendo representadas por estradas ou outras companhias ferroviárias que passam a atuar na mesma área de influência que o eixo pioneiro). Características capazes de estruturar conceitos em torno da mobilidade e descrever suas formas de atuação em meio à transformação da paisagem natural.

 

Em relação ao Estado de São Paulo, o início do século XX demonstra o avanço da marcha para o Oeste concentrado nos limites da Depressão Periférica Paulista. Em 1905, após os trilhos da Sorocabana atingirem a cidade de Bauru, a Estrada de Ferro Noroeste de Bauru inicia a sua empreitada buscando a transposição do rio Paraná, seguindo em direção ao Estado do Mato Grosso. Algum tempo depois, as companhias Paulista, Sorocabana e Araraquarense a partir de suas especificidades seguiriam abrindo o território.

 

Esta delimitação cronológica se encerra em 1950, momento onde o rodoviarismo já se encontra inserido como estratégia de propulsão ao desenvolvimento econômico e comunicação territorial, iniciando o gradativo declínio ferroviário em todo o país.

 

A conservação dos sítios industriais requer um conhecimento profundo do objetivo ou objetivos para os quais foram construídos, assim como dos diferentes processos industriais que se puderam ali desenvolver. Estes podem ter mudado com o tempo, mas todas as antigas utilizações devem ser investigadas e avaliadas. (TICCIH - Carta de Nizhny Tagil, 2003)

 

 

Em seu primeiro momento, a pesquisa foi dedicada ao levantamento histórico das linhas (Noroeste, Paulista, Sorocabana e Araraquarense) e respectivas cidades envolvidas, sendo confrontadas informações como as datas de fundação das cidades e a chegada da ferrovia. A partir da identificação do trilho como elemento pioneiro ou não, ou seja como fundador ou não de cidades (uma ação variável ao longo do Oeste Paulista) a pesquisa buscou recolher informações sobre  as características iniciais de cada localidade.

 

Viagens de estudo foram desenvolvidas para a busca de materiais em campo, um procedimento necessário à narrativa do desenvolvimento espacial, econômico e industrial de cada região. Nesta etapa foram priorizadas as cidades “Bocas de Sertão”, ambientes estratégicos, uma vez que concentravam os equipamentos necessários para o avanço das linhas. As pesquisas revelaram que estas cidades demonstram entre outras características a concentração de recursos e índices de desenvolvimento em função do maior tempo de parada das frentes de abertura do sertão. Paralelo às viagens, mapeamentos foram realizados, tendo como suporte fichamentos e gráficos com o intuito de quantificar e descrever as tipologias funcionais encontradas em cada cidade.

 

Vale lembrar, que o intervalo de tempo existente entre os registros históricos de cada cidade, não apresentam uma cronologia específica. Sendo assim, as datas das reproduções realizadas pela pesquisa variam conforme sua disponibilidade. Inúmeras foram as dificuldades em torno da localização de materiais e relatos sobre os temas abordados, uma vez que grande parte das cidades não possui arquivos que demonstrem seu desenvolvimento.

 

Sites de estudos georeferenciais e arquivos históricos, brasileiros e europeus foram analisados, buscando a melhor forma de articulação entre a compreensão dos espaços urbanos e seus respectivos contextos históricos. As informações recolhidas foram organizadas conforme os melhores parâmetros identificados em sites e arquivos, sendo seus resultados revelam a importância de reconhecimento e valorização dos ambientes históricos, assim como os meios utilizados neste processo.

 

Os resultados visam remontar através de uma abordagem histórico-geográfica a entrada da indústria no Oeste do Estado de São Paulo, inicialmente atrelada ao modelo ferroviário, substituído gradativamente pelo modelo rodoviarista, que provoca um processo de deterioração e degradação de toda uma estrutura urbana gerada em torno da ferrovia e demais equipamentos desenvolvidos como garantia de sua subsistência, áreas de possível intervenção e reutilização urbana, conforme situações internas ao seu ambiente.

 

A conservação dos sítios industriais requer um conhecimento profundo do objetivo ou objetivo para os quais foram construídos, assim como dos diferentes processos industriais que se puderam ali desenvolver. Estes podem ter mudado com o tempo, mas todas as antigas utilizações devem ser investigadas e avaliadas. . (TICCIH - Carta de Nizhny Tagil, 2003)

 

Síntese das características Abordadas.

  • Apresentação das características inerentes ao desenvolvimento ferroviário brasileiro, englobando inicialmente o período entre o seu surgimento e a Proclamação da República. A partir de 1889, a pesquisa passa a centralizar os fatos decorrentes à porção Oeste do Estado de São Paulo.

  • Apresentação das características inerentes ao desenvolvimento ferroviário do Oeste do Estado de São Paulo, buscando contextualizar a “Marcha para o Oeste”, assim como as características naturais deste espaço e os índices de desenvolvimento urbano e industrial alcançado por esta região, que leva em conta as quatro companhias ferroviárias: Noroeste, Paulista, Sorocabana e Araraquarense;

  • Compreender como as influências europeias interferem no desenvolvimento ferroviário e formação urbana das cidades do Estado de São Paulo;

  • compreender o processo de expansão das rodovias no Estado de São Paulo e suas devidas comparações com o desenvolvimento ferroviário. Possibilitando a criação do ambiente de estudo ao conceito de Patrimônio da Mobilidade.

  • Passado Presente e Futuro: A análise permite a compreensão da influência da ferrovia na região e da ruptura existente a partir do modelo rodoviário de transportes, que inicia transformações urbanas nos anos 1950, e culmina nos anos 1960 no abandono gradativo dos antigos ambientes símbolos do modelo ferroviário.

 

Ao longo dos quatro ramais ferroviários foram identificados: máquinas de beneficiamento de café, arroz, oleaginosas, fazendas, usinas e destilarias, cerâmicas e fábricas de pisos, beneficiamento e uso de madeira, fábrica de alimentos, bebidas, de chapéu, sapatos, carroças, selarias, oficinas e fundições, fábricas de gelo, laticínios, matadouros, tânicas, curtumes, sabão, tecelagens, vidros e espelhos, farmácias, vilas operárias, companhias de colonização, instituições financeiras, centros de saúde, escolas, equipamentos de cultura e lazer, hotéis, estradas, empresas de transporte, prédios públicos, portos e aeroportos, jornais, igrejas entre tantos outros equipamentos, cujas cidades pesquisadas encontram-se descritas na tabelas a seguir:

 

Cidades abordadas pela Pesquisa:

Noroeste: Bauru, Avaí, Glicério, Birigui, Coroados, Lins,  Penápolis, Araçatuba, Avanhandava, Pirajuí, Presidente Alves, Promissão, Andradina.

Sorocabana: Assis, Bragança Paulista, Santo Anastácio, Ourinhos, Alvares Machado, Rancharia, Paraguaçu Paulista, Presidente Prudente, Martinópolis, Cândido Mota, Presidente Epitácio.

Paulista: Marília, Tupã, Agudos, Gália, Vera Cruz, Panorama, Adamantina, Piratininga, Garça, Tupã, Osvaldo Cruz, Pompéia.

Araraquarense: São José do Rio Preto, Votuporanga, Araraquara,Fernandópolis, Tanabi, Santa Fé do Sul, Urânia, Jales, Botucatu.

 

Todas as informações foram demarcadas em mapas, devidamente articuladas à fichas de identificação, contendo informações como data de fundação do equipamento, nome de seu proprietário, endereço, informações sobre sua atividade, função industrial ou de equipamento urbano, existência ou não dos edifícios, atual função do local, condições de conservação, fotografias e demais documentos que ilustrem sua presença.

 

Referências Bibliográficas:

TICCIH. Carta de NIZHNY TAGIL sobre o Patrimônio Industrial. The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage. 2003. Disponível em: <http://ticcih.org/wp-content/uploads/2013/04/NTagilPortuguese.pdf> acesso em Maio de 2015.

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